quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

"Enxuto, limpo e cheio de blues"


Ouvir "Cosmo's Factory", do Creedence Clearwater Revival, me transporta imediatamente para aqueles bares sulistas americanos. Sabe aqueles que tem em filme, com um clima meio barra pesada? Consigo ouvir bolas de sinuca batendo umas nas outras e pessoas jogando conversa fora com aquele sotaque californiano safado. Som ambiente para os jams de guitarra e a voz porreta do John Fogerty.

Também consigo enxergar todo um ambiente de luz baixa, com uma fumaceira desgraçada de cigarro. O engraçado é que esta imagem tem tudo a ver com o processo de criação deste álbum. Os tabagistas da banda tinham passe livre em um dos primeiros estúdios onde o CCR ensaiava. E daí, o baterista, Doug "Cosmo" Clifford, começou a se referir ao lugar como "the factory".

Mas estranho mesmo é pensar que este foi o quinto disco do CCR num espaço de dois anos e meio. Foram os seis, neste curto período de tempo. "Todos feitos às pressas, sem enfeites - eram somente rock'n'roll puro, contagiante e num estilo pop", diz o meu guia. Fogerty tem a fama de ser um CDF do rock'n'roll, sempre ensaiando. Acho que por isso o Creedence uma música tão duradoura e icônica (quando eu penso Estados Unidos, tocam três músicas na minha cabeça, e uma delas é "Have you ever seen the rain?").

Bom, vamos a "Cosmo's Factory". "Travellin' Band" homenageia Little Richard (diz o guia, e eu não poderia concordar mais, é um puta baile rockabilly de 2'09''). No allmusic.com, li a definição perfeita sobre "Ramble Tamble", a faixa inicial de 7'10'': "Ao contrário de alguns instrumentais estendidos, este é dramático e tem uma direção". Daí a polêmica sobre a versão do CCR de "I heard it through the grapevine". O allmusic.com acha que a música "vagueia", mas eu viajo felizaço na maionese, durante os 11'04'' com a voz e a guitarrinha do Fogerty.

O rock doméstico, porém rico em harmonias vocais, de "Up around the bend", contrasta com a melancolia de "Who'll stop the rain", que por sua vez se diferencia da violência de "Run through the jungle". É um disco para se ouvir em qualquer estado de espírito. A voz do John Fogerty serve tanto para dizer que se ama quanto para se mandar tomar no %$%$@.

Abaixo, para vocês, a baladinha que eu mais gosto de ouvir. "Enxuto, limpo e cheio de blues". É o que diz uma plaquinha pendurada no famoso estúdio do CCR, o "Cosmo's Factory". E é o que sintetiza cada uma das 11 faixas deste maravilhoso disco.

No mais, Creedence Clearwater é o nome de um ex-jogador do Guarani FC. Igual a mim, os pais do menino eram fãs do CCR.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

A soprano que faltava para os meus ouvidos


Começo esta jornada musical com o álbum de estreia de Joan Baez, "Joan Baez" (Vanguard, 1960). Para quem conhece muito pouco da obra dela - francamente, só me lembro das parcerias com o Bob Dylan, como "Blowing in the wind" - tive a maior vontade de adotar a voz dela para a minha vida.
Tenho um fascínio irremediável por sopranos e por música folk - fruto de uma adolescência pseudo-céltica. E que alegria foi ouvi-la cantando "Wildwood flowers" (quem não se lembra da Reese Witherspoon cantando isso em "Walk the line"?).
Fiquei interessado em aprender mais sobre a trajetória social dela, e as influências disso sobre sua música. Mais para frente na carreira, ela gravou músicas de Villa-Lobos e Zé do Norte. Muito curioso estou para ouvir isso. Mas fico feliz de ter dado o pontapé inicial neste estudo com o álbum de estreia. "Embora ainda não estivesse na linha de frente dos movimentos de protesto, a força, a coragem e a paixão da cantora já aparecem neste álbum inicial", está no guia.
No mais, ela está viva e com 71 anos.